Clubes ainda enfrentam barreiras logísticas no futebol feminino
- 17/06/2025
Palmeiras, Flamengo, Corinthians e Bragantino investem por conta própria
A logística de viagens no futebol feminino brasileiro ainda é um dos principais obstáculos enfrentados por clubes em busca de alto rendimento. Pela regra da CBF, somente deslocamentos superiores a 500 km são custeados com passagens aéreas, o que obriga os times a recorrerem, na maioria dos casos, a ônibus. “No futebol feminino, ainda é comum muitas viagens de ônibus por conta dos custos”, informou o Palmeiras, que recentemente bancou um voo para o time enfrentar o Flamengo, sob ordem da presidente Leila Pereira.
Além do clube alviverde, apenas Flamengo, Corinthians e Red Bull Bragantino investiram em deslocamentos aéreos por conta própria, e mesmo assim, de forma pontual. A regra de 500 km foi uma redução em relação ao limite anterior de 700 km, mudado em 2023. A CBF também ampliou de 27 para 30 o número de passagens e hospedagens pagas por delegação feminina, mas ainda sem equiparar as condições às do futebol masculino, que não possui restrição de distância.
A logística alternativa gera relatos de desgaste e comprometimento do rendimento das jogadoras. O Corinthians, por exemplo, dividiu a viagem para Muriaé (MG) entre ônibus e avião em 2023, bancando os custos extras. Já o Flamengo arcou com os valores da viagem para a semifinal da Supercopa contra o São Paulo. “Na semifinal da Supercopa contra o São Paulo, o clube arcou”, justificou o Rubro-Negro, citando falta de tempo de recuperação como motivo.

Profissionais apontam impacto direto nas atletas
O Juventude ressaltou os desafios orçamentários. “Os custos de logística e estrutura acabam pesando muito em decisões financeiras”, declarou o clube, que vê os valores das cotas da CBF como ainda baixos para cobrir deslocamentos aéreos. O Grêmio também indicou que avalia caso a caso: “A depender da necessidade e das questões que envolvem a recuperação da equipe, vamos fazer todo possível para proporcionar isso”.
Fisioterapeutas e clubes são unânimes em afirmar que as viagens influenciam negativamente no rendimento. “As viagens longas de ônibus impactam bastante na recuperação das atletas”, explicou Letícia Ribas, medalhista olímpica. Ela alertou sobre os riscos da má circulação e do sono de má qualidade. “Outro ponto importante é o sono. Muitas vezes, essas viagens são feitas à noite ou de madrugada, e as atletas não conseguem descansar de forma adequada.”
As longas distâncias por terra ou com escalas aéreas causam inchaços e fadiga, afetando diretamente a performance em campo. “Viagens de ônibus, ou escalas longas, por mais que seja um ônibus confortável, desgasta muito”, afirmou o Juventude. Além disso, compromete a alimentação e a rotina de descanso das atletas. Letícia completa: “Fica difícil manter a performance e a saúde das jogadoras”.
“Só vai acontecer se todos apoiarem”, diz dirigente do Flamengo
Para o gerente de futebol feminino do Flamengo, André Rocha, o cenário atual ainda está longe do ideal, mas há um caminho a ser trilhado. “Tenho certeza de que daqui a uns anos nós vamos discutir porque estamos viajando de avião normal e não de fretado”, afirmou. Segundo ele, a evolução depende de um esforço conjunto. “Só vai acontecer se todos os interessados realmente apoiarem a evolução da modalidade.”